Uma das necessidades primárias da vida é a comunicação, sendo esta indispensável à própria sobrevivência. Voyenne (1971), citado por Ferreira & Costa (1996), afirma que o ser humano é um ser social e que para conseguir viver em sociedade necessariamente tem de comunicar, uma vez que esta implica um constante intercâmbio de ideias emoções e vivências. “A comunicação é o mecanismo através do qual existem e desenvolvem as relações humanas” (Cooley, 1909, citado por Santos, 1992, p.9).
A comunicação tem sido definida de várias formas. Theodorson & Theodorson (1969), citados por McQuail & Windahl (1993, p.12) consideram que a comunicação é uma “transmissão de informação, ideias, atitudes ou emoções de uma pessoa ou grupo para outro (outros) essencialmente através de símbolos”. Osgood et al. (1957), citados por McQuail & Windahl (1993 partilham a mesma perspectiva, considerando que existe comunicação, sempre que houver um sistema interactivo com uma fonte, um destinatário e símbolos que podem ser transmitidos através de um canal.
Quando comunicamos damos início a um processo onde são transmitidas ideias, informações, sentimentos ou experiências ao outro, que por sua vez, também conhece o significado do que se diz, pensa ou faz (Ferreira & Costa, 1996).
Comunicar é transmitir um determinado significado através de qualquer meio, independentemente do tipo, seja ele sonoro, visual, gestual ou verbal (Santos, 1992). Como já foi referido anteriormente, o Homem não é um ser isolado e sente a necessidade de comunicar com os que o rodeiam, para isto existem dois tipos de comunicação: a comunicação verbal e a comunicação não – verbal.
A comunicação verbal é aquela que utiliza as palavras faladas e escritas como meio de expressão. A comunicação verbal falada pode ser feita através do diálogo entre duas ou mais pessoas, através das massas (televisão, rádio, teatro, entre outros). A comunicação verbal escrita engloba os livros, revistas, cartazes, jornais, cartas, entre outros (Ferreira & Costa, 1996).
Num processo de interacção, a comunicação entre pessoas não passa somente pelas palavras, podendo ser feita através de gestos, sons, a tonalidade da voz, as expressões faciais, as posturas corporais, entre outros elementos. Todos estes factores portam mensagens e reportam-se para a comunicação não – verbal [Marci & Picard, 198-]. Assim, Ferreira & Costa, 1996, consideram que este tipo de comunicação utiliza como meio de expressão os sinais sonoros ou visuais, gestos, símbolos ou ainda uma linguagem táctil e química. Todos nós utilizamos diariamente, movimentos de mão, acenos de cabeça, expressões faciais, olhares, que reforçam as nossas próprias palavras. Seguindo esta ideia, “o comportamento verbal e o comportamento não – verbal combinam-se na perspectiva de uma comunicação total” [Fey, et al., 1984, citado por Marci & Picard, 198-, p.168].
Esteves (2002) acredita que existe um modo adequado para descrever o acto de comunicação, e, este consiste em responder a algumas questões: “Quem?”, “Diz o que?”, “Através de que canal?” “A quem?” e “Com que efeito”. Seguindo este ponto de vista, a comunicação implica um emissor, um canal, uma mensagem, um destinatário, uma relação entre emissor e receptor, um efeito e um contexto no qual a comunicação ocorre, podendo existir, ou não uma intenção (McQuail & Windahl, 1993).
Num processo de comunicação existe um emissor, que é o sujeito, individual ou colectivo, que envia uma mensagem. A mensagem é um conjunto de informações que o emissor transmite, sob a forma de sinais ou signos, a um receptor. A mensagem deve seguir um determinado código organizado segundo certas regras, conhecidas e aceites pelo emissor e receptor (ser comum a ambos). Quando a mensagem já se encontra elaborada, o emissor terá de escolher um canal (um meio), que lhe permita enviar essa mesma mensagem ao receptor. Sendo assim, o canal, é um intermediário que assegura a passagem da mensagem entre o emissor e receptor. O receptor é, também um sujeito individual ou colectivo, que recebe e compreende o conteúdo da mensagem e descodifica-a, esta descodificação permite ao receptor compreender e interpretar, com base no código, os signos que compõe a mensagem que recebeu (Ferreira & Costa, 1996).
Em muitos casos, pode existir uma retroacção da mensagem, o feedback. O feedback trata-se do processo através do qual o emissor obtém informação sobre o receptor recebeu a mensagem e, se a percebeu (McQuail & Windahl, 1993).
Contudo, para garantir a eficácia da comunicação é necessário que o emissor transmita de uma forma correcta aquilo que pretende. Porém, ao longo do canal, podem aparecer alguns elementos que danificam a eficácia do processo comunicativo. O ruído é uma das barreiras que podemos encontrar. Este fator é considerado uma perturbação que ocorre no processo de comunicação e que não é pretendida pelo receptor, mas que vai afectar a recepção da mensagem e, por sua vez, irá interferir na quantidade e qualidade da informação (Ferreira & Costa, 1996).
Os autores nomeados anteriormente expõem alguns exemplos de interferências que decorrem durante o processo da comunicação:
Ø No emissor: palavras mal pronunciadas ou pronunciadas num tom de voz demasiado alto ou baixo, perturbações na fala, etc.
Ø No receptor: distracção, deficiência ou incapacidade visual ou auditiva, etc.
Ø Na mensagem: construção de frases deficientes (má construção de frases ou utilização de frases confusas, etc.).
Ø No código: gralhas, utilização de códigos diferentes (sinais ou símbolos trocados, etc.).
Ø No canal: interferência radiofónica, papel sujo ou manchado, etc.
A escuta desempenha um papel fulcral e activo no processo de comunicação. Sem ela não é possível descodificar e interpretar a mensagem. O indivíduo deve “saber deixar falar”, “colocar-se em empatia com o outro” ; “centrar-se no que é dito”; “manter os canais abertos”; “eliminar qualquer juiz de imediato”; “não interromper o outro”; “não deixar transparecer as emoções pessoais”, “resistir ao efeito halo” (centrar-se no que é transmitido independentemente do que pensa da pessoa que emitiu a informação), “reformular as mensagens” e utilizar as capacidades cerebrais (Dias, 1999, p(s): 15-16).
Na comunicação utiliza-se a redundância. “É usada inconscientemente para garantir que o interlocutor entende mesmo a mensagem” (Pereira, 2004). A redundância é usada na presença de determinados elementos que não acrescentam nada à mensagem, mas que têm um papel essencial na qualidade de informação, clarificando e dando ênfase às ideias transmitidas. Os elementos podem ser de tipo linguístico (exemplo: “eles foram para a praia, e eles sabem bem que eu não quero!”), de tipo gestual (exemplo: “afastar os braços para dizer que o carro é espaçoso”) e do tipo sonoro (exemplo: “dizer que é meia noite quando, à noite, o relógio dá 24 horas”) (Dias, s/d, citado por Ferreira & Costa, 1996).
Contudo, o acto de comunicar não é fácil, porque no discurso que o Homem utiliza, está patente, aquilo que cada um representa. O ser humano é complexo e resulta de vários factores biológicos, que são referentes aos inatos e ao património hereditário (sexo, constituição, hereditariedade e temperamento); factores psicológicos que se caracterizam pelos elementos adquiridos através de influências socioculturais e sócio - afectivas (família, escola, momento histórico, história pessoal e influência do meio) e factores resultantes das experiências que cada um vivência, nomeadamente as experiências dos vários meios e/ou grupos (meio religioso, meio escolar, meio sindical, seio familiar, meio profissional, entre outros). Tudo isto cria a personalidade da pessoa e influência o ato comunicativo (Dias, 1999).
A comunicação é um processo de intercâmbio de informação, e, é através dela, independentemente da forma, que nós estabelecemos uma interação com o outro. Uma vez que o Educador Socioprofissional trabalha em equipa, desempenhando funções cooperativas e colaborativas, necessita de estabelecer um processo comunicativo com o outro, para que haja partilha de informação, de ideias, pensamentos e discussões.
O Educador Socioprofissional diariamente lida com diversas problemáticas, e, por isso ele deve escolher um código percetível a ambos. Deve, também escolher a forma e o meio pelo qual vai transmitir a sua mensagem, pois cada individuo acarreta a sua problemática e a interpretação que ele irá fazer deverá ser bem executada.
Por isso, podemos concluir que a Comunicação Interpessoal é crucial para um Educador Socioprofissional, bem como para todos os indivíduos. É através dela que conseguimos transmitir e receber as informações e interagir com o outro. Sem comunicação o ser humano não conseguiria sobreviver!
Bibliografia:
Dias, J.M. (1999). A Comunicação Pedagógica: Colecção Formar Pedagogicamente. Instituto de Emprego e Formação Profissional
Esteves, J. (2002). Comunicação e Sociedade. Lisboa: Livros Horizontes
Ferreira, S. & Costa, A. (1996). Comunicando. Rio Tinto: Edições ASA
McQuail, D. & Windahl, S. (1993). Modelos de Comunicação. Lisboa: Editorial Notícias
Micard, E. & Picard, I. [198-]. A Interacção Social. Porto: Rés
Pereira, O. (2004). Fundamentos de Comportamento Organizacional. Lisboa: Fundação Caloute Gulbenkain
Santos, J. (1992). O que é Comunicação. Lisboa: Difusão Cultural