Inicialmente este projeto foi desenvolvido no âmbito da Unidade Curricular Técnicas de Animação de Grupo dirigida pelo Master Carlos Jorge De Sá Pinto Correia, no decorrer do 2º ano da Licenciatura de Educação Socioprofissional da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Arcozelo.
Hodiernamente, o bloguefólio é desenvolvido no âmbito da Unidade Curricular Metodologias e Técnicas de Educação Gerais e Especiais II.
O blogue é uma página da internet que possui mecanismos simples de forma a que seja possível postar textos, imagens e vídeos. Através do blogue é possível proporcionar uma experiência social na medida em que todos podem discutir ideias e opiniões sobre determinados assuntos sem que estejam no mesmo espaço físico e ao mesmo tempo.
Este mecanismo é uma rede interactiva onde são partilhados conhecimentos de maneira a dinamizar a Educação. O facto de um Educador Socioprofissional utilizar este tipo de ferramenta faz com que o seu currículo enriqueça e o seu curso fique com uma maior visibilidade. Através do bloguefólio o Educador Socioprofissional pode demonstrar os seus trabalhos, as suas experiências , também, adquirir o mesmo (através de outros blogues). Um ponto bastante relevante é o facto de o blogue não conter fronteiras, o que possibilita a comunicação com todos os indivíduos de diferentes locais.
Em síntese, para um Educador Socioprofissional, um weblog, também assim designado, é um portfólio pessoal, embora digital que se caracteriza como um espaço de intercâmbio, colaboração e debate. Deve ser construído gradualmente de maneira a que o Educador consiga relatar as suas experiências mais significativas para que seja possível a reflexão dos que visualizam os assuntos expostos.

"Cenário de risco": Trabalho Individual


“O educador realiza a sua missão de orientar, acompanhar e ajudar, na medida que ao aproximar – se do outro, não pode ficar indiferente aos seus apelos”
Baptista e Carvalho, 2004

 Índice
Introdução
Parte I
1.    Enquadramento Teórico 
1.1.               Famílias em risco/famílias multiproblemáticas 
1.1.1.   Desenvolvimento familiar 
1.2.               A intervenção em famílias em risco – O papel do Educador socioprofissional 
Parte II
2.    Apresentação do Cenário de Rico 
2.1.               Público – Alvo 
2.2.               Caracterização/ Apresentação do Público – Alvo 
2.3.               Dinâmica a aplicar 
2.4.               Objetivo Geral 
2.5.               Objetivos Específicos 
2.6.               Metodologias a utilizar 
2.7.               Duração da dinâmica 
2.8.               Recursos humanos a utilizar 
2.9.               Recursos físicos a utilizar 
3.    Avaliação 
Conclusões
Bibliografia


Introdução
O presente trabalho é desenvolvido no âmbito da unidade curricular Metodologias e Técnicas de Educação Gerais e Especiais II, orientada pela Dr.ª Maria Orquídea Campos, do quarto semestre da Licenciatura de Educação Socioprofissional, da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Canelas, Vila Nova de Gaia.
A tarefa aqui patente tem como objetivo primordial, identificar um determinado cenário de risco e posteriormente enumerar algumas metodologias abordadas na aula, para dar solução à problemática apresentada.
O trabalho está dividido em duas partes. A primeira é referente a um pequeno enquadramento teórico, onde é abordada a questão das famílias em situação de risco / famílias multiproblemáticas, o desenvolvimento e funcionamento familiar, bem como a intervenção nestas famílias.
A segunda parte reporta-se para a apresentação do cenário de risco. Aqui é identificado qual o público – alvo, bem como a sua caracterização, o nome da dinâmica a apresentar, o objetivo geral e os específicos, as metodologias, a duração do acompanhamento, os recursos humanos e físicos e uma pequena avaliação.
É de realçar que o cenário apresentado é verídico, presenciado pela autora deste trabalho.
Apesar de serem expostas algumas metodologias pedagógicas para intervir, antes de serem apresentadas, será solicitado à turma alguns exemplos de metodologias que possam ser aplicadas neste caso específico. Só depois serão enunciadas os métodos presentes neste trabalho.


Parte I

11.   Enquadramento teórico
1.1.      Famílias em risco/ famílias multiproblemáticas
O primeiro meio de socialização que o sujeito integra é a família. Esta deve transmitir valores de maneira a que seja possível o amadurecimento e a aquisição de normas essenciais para o desenvolvimento biopsicossocial de cada elemento familiar. “A família é considerada um ciclo vital, do qual, trará algumas consequências e interferências no aspeto emocional, assim como na construção da sua identidade, que será vista como um espelho para as gerações futuras, capaz de construir o alicerce no decorrer da vida” (Passerini & Sozo, 2008, p.5).
Família provém do latim “famulus” que significa “escravo doméstico”. Este conceito apareceu durante o período da Roma Antiga para atribuir um significado aos grupos sociais que foram surgindo nas tribos e que trabalhavam como escravos e como agricultores. Mais tarde a família passou a ser valorizada, mas apenas eram respeitadas as famílias em que todos os membros fossem do mesmo sangue, existindo, também, um chefe para tomar decisões e dar ordens (Silva, 2009).
O mesmo autor afirma que na Idade Média, as crianças deixavam de o ser quando aprendiam a trabalhar. Nesta fase, a família não era sinónimo de afetividade, mas sim de sobrevivência.
Segundo Clavel (2004), as alterações industrias que ocorreram devido à Revolução Industrial, provocaram uma mobilidade geográfica, social e profissional. O emprego diminui o que fez com que um casal passa-se a constituir família, essencialmente pelo dinheiro que iriam beneficiar dos apoios sociais, aumentando, assim, o número de famílias multiproblemáticas.
“As famílias multiproblemáticas são (...) um dos emblemas da pós-modernidade e isso não apenas pela sua estreita ligação às toxicodependências. Geralmente pouco produtivas, a sua relação com o consumo é ambígua e quase pitoresca: em casa pode faltar o necessário ao nível da comida ou da roupa e, apesar disso, encontrar-se repetido um eletrodoméstico último modelo. O que estas famílias consomem de forma desenfreada são serviços sociais, até ao ponto de existir uma relação privilegiada entre ambas as instâncias o que faz com que, frequentemente seja muito difícil desligá-las uma da outra” (Linares, 1997, citado por Rebelo, 2012).
Silva (2009), acredita que a família é um socializador primário e é aqui que são transmitidos valores, hábitos, costumes, regras e linguagem que caraterizam o próprio seio familiar.
Do mesmo modo pensa Rebelo (2012), uma vez que considera que a família é um lugar único onde são feitas e elaboradas diversas aprendizagens. Contudo, o presente autor considera que o meio familiar tem sofrido muitas alterações, considerando que existem dois tipos de sistemas familiares: o sistema familiar funcional e o disfuncional, como é possível verificar na tabela 1.
Tabela 1: Caraterísticas dos sistemas familiares funcionais e disfuncionais

Sistema Familiar funcional
Sistema familiar disfuncional
Limites entre gerações
Cada geração adulta é responsável por si
Individuação precária
Limites entre indivíduos:
- Alianças





- Relações Simbióticas
Automatização


- Casamento dos filhos



- Chefia
- Responsabilidades
Claros
- Sólidas entre os pais





Limitadas aos primeiros meses de vida.
Adolescência dos filhos bem localizável.
Diz respeito aos dois interessados, sobretudo.


- Bem aceite.
- Assumidas. Partilhadas em situações difíceis.
Confusos
- Fraca entre os pais. Coligação de um dos pais com o filho.
Aquisição de autonomia dos filhos provoca crises familiares.
Assunto de família. Necessidades de automatização não reconhecidas.
Atribuídas a pessoas exteriores à família ou aos acontecimentos (destino).
- Não são aceites.
- Não existem, ou não são assumidas.
- Comunicações
- Cada um fala por si. Comunicações claras. Receção das mensagens bem assinaladas. Se a comunicação é pouco clara, há possibilidade de meta comunicar.
- Tendência de falar em nome de todos. Comunicações pouco claras ou ambíguas. Mensagens contraditórias. Desqualificação das mensagens recebidas (ignoradas, desvirtuadas, minimizadas).
- Respostas a modificações ou situações difíceis
- Feedback positivo, adaptação à mudança. Modificação das regras de funcionamento interno ou externo.
- Feedback negativo, oposição à mudança.
Fonte: REBELO, H. (2012). Seminário sobre: “Intervenção: Famílias em Risco”, em Janeiro.
As famílias que se encontram em risco englobam sujeitos mais isolados que apresentam meios afetivos e morais fragilizados. Consequentemente, uma família que se encontra numa situação de risco, está mais privada e limitada a nível socioeconómico, nomeadamente no acesso ao mercado profissional, ao estatuto social e à aquisição de rendimentos; no campo urbano, sobretudo, no acesso à habitação, cultura e qualidade de vida; a nível escolar, designadamente no acesso a formação, o que provoca um insucesso escolar; no campo da saúde e no campo jurídico (Clavel, 2004).


1.1.1.Desenvolvimento e Funcionamento Familiar
Rebelo (2012), acredita que não existe apenas um sintoma preciso para afirmar que uma família se encontra em risco. Este autor considera que os primeiros comportamentos surgem na etapa de formação do casal, onde há dificuldade de dar resposta às necessidades básicas e de estabelecer um suporte financeiro, o que leva a uma procura de ajuda financeira para responder a essas carências, causando uma dependência dos apoios socias e institucionais.
O autor anteriormente enunciado diz que estas famílias apresentam casas pouco cuidadas e degradadas, bem como uma dificuldade em cumprir regras e leis. Estes grupos familiares têm um grande absentismo escolar e inúmeras situações de maus tratos.

1.2.      A intervenção em famílias de risco – O papel do Educador Socioprofissional
Todas as transformações que ocorreram provocaram uma distinção mais evidente entre os países pobres e ricos. O que levou a um acréscimo de famílias carenciadas. A educação desempenha um papel fundamental neste âmbito: “há que conduzir, ou reconduzir, para o sistema educativo, todos os que dele andam afastados, ou que o abandonaram, porque o ensino prestado não se adaptava ao seu caso. Isto supõe a colaboração dos pais na definição do percurso escolar dos filhos e a ajuda às famílias mais pobres para que não considerem a escolarização dos seus filhos como um custo impossível de suportar” (Delors et al, 1998, p.55).
Na perspetiva de Sampaio (1994), os divórcios e as separações aumentam de ano para ano, e, esta rutura é associada ao fim do amor, contudo o presente autor, afirma que quando um casal tem um determinado problema, deve pedir ajuda aos técnicos especializados, caso contrários todas as discussões irão ser sentidas pelos filhos e isso, irá afetar a construção da sua personalidade.
O educador socioprofissional / social tem um grande papel interventivo nas situações de risco. Este mediador social atua perante as questões sociais e as necessidades dos sujeitos. Contudo, este educador deve também integrar as pessoas que se encontram em situações de risco, exclusão e marginalização social. O Educador Social concede auxílio psicossocial, profissional, cultural, a sujeitos que estão inseridos em contextos sociais variados, desenvolvendo ações que diminuam e resolvam esses problemas. Contudo, este educador, não trabalha sozinho, pois estabelece um trabalho cooperativo e colaborativo com os técnicos que acompanham cada caso (Azevedo, 2011).

Parte II

1.   Apresentação do Cenário de Risco

1.1.      Público – Alvo
O presente cenário é integrado por uma família constituída por 12 elementos.

1.2.      Caracterização/ Apresentação do Público-alvo
A família é constituída por:
- Uma idosa, (mãe e avó), viúva com cerca de 80 anos e que recebe auxilio a nível de cuidados de higiene (apoio domiciliário);
- 2 Casais: casal A e casal B.
- Casal A:
Ø  mulher e homem desempregados e ambos têm baixa escolaridade;
Ø  mulher alcoólica;
Ø  mulher recebia o Rendimento Social de Inserção (RSI), mas deixou de o receber, por incumprimento do acordo de inserção;
Ø  este casal tem 4 filhos rapazes: um maior de idade (já não vive em casa); outro com 17 anos; outro de 13 anos e outro de 6.
Ø  Os filhos menores foram retirados e estão acolhidos em instituições.
- Casal B:
Ø  mulher trabalha, mas apresenta baixa escolaridade;
Ø  homem desempregado a receber o RSI, com poucas habilitações literárias;
Ø  este casal tem três filhos: dois rapazes menores, um com 7 e outro com 12 anos; uma rapariga de 15 anos.
Ø  Os dois rapazes frequentam a escola, embora faltem com alguma frequência; a rapariga já tem um filho, que foi retirado poucos meses após o seu nascimento.
É de realçar, que esta família vive numa casa degradada, sem água quente e numas condições bastante precárias. A cozinha da casa também faz de sala, e o sofá que nela se encontra faz de cama para um dos jovens. Existem discussões permanentes entre os casais, principalmente entre as mulheres.
A situação apresentada é real, vivenciada pela autora do presente trabalho, na instituição onde está a desenvolver o estágio.

1.3.      Dinâmica a aplicar
A proposta de resolução do cenário apresentado denomina-se de I.Z.I (Intervir, Zelar e Integrar).

1.4.      Objetivo Geral
Sensibilizar e promover a inserção social de uma família em situação risco

1.5.      Objetivos Específicos
- Promover e melhorar a qualidade de vida;
- Melhorar a autoestima de cada elemento;
- Desenvolver competências socioprofissionais e socioeducativas;
- Desenvolver aptidões do saber – fazer, saber – estar e saber – ser;
- Promover a interação/socialização;
- Contribuir para o bem – estar físico, psicológico e social.



1.6.      Metodologias a utilizar
Este caso apresenta diversas problemáticas que necessitam de ser trabalhadas e por isso torna –se fundamental utilizar diversas metodologias de intervenção. As metodologias a aplicar seriam as orientadas para a modificação de atitudes.
Um método pedagógico essencial para obter resultados favoráveis nesta situação é o “Método dos Casos”, uma vez que este responde à preocupação de completar a aprendizagem com recursos a casos reais e, neste caso é essencial, para sensibilizar esta família, para que eles consigam perceber em que condições vivem, que valores transmitem aos seus filhos e quais atitudes que tomam no seu quotidiano.
Outro método a aplicar seria a “Discussão de Grupo”, onde todos os participantes têm a possibilidade de explorar os seus receios, tentações e objeções. Este método permite discutir o funcionamento entre os elementos, possibilita o conhecimento de um determinado assunto, sendo eficaz na assimilação de conhecimentos e é essencial para proporcionar a motivação.
O último método, que julgamos ser importante para tentar resolver e/ou melhorar este caso refere-se a “Formação centrada nos participantes”, neste processo, o formador coordena toda a sessão, apresenta algumas atividades semiestruturadas, dando possibilidade ao grupo de desenvolver essas atividades da maneira que pretender, de acordo com as necessidades e ritmo de cada um.

1.7.      Duração da Dinâmica
A dinâmica I.Z.I deverá decorrer duas vezes por semana, alternando as metodologias, de maneira a não criar monotonia, desmotivação e desinteresse.
A criação de rotinas é fundamental para esta família, uma vez que não existe qualquer tipo de regras.
Esta família deve ser acompanhada num período de longa duração.
1.8.      Recursos humanos a utilizar
Para tentar resolver algumas das situações, seria necessário vários intervenientes, nomeadamente um educador socioprofissional, um assistente social, uma terapeuta familiar e um psicólogo. Este trabalho deve ser de carater cooperativo e colaborativo, pois só assim será garantido o sucesso e a eficácia da resolução deste caso.
Poderá também, ser necessário a presença de pessoas que já passaram por situações semelhantes, para falar dos seus casos e demonstrar como o ultrapassaram.

1.9.      Recursos físicos a utilizar
Estas sessões deverão decorrer numa sala, com bastante luminosidade e conforto.
Por vezes, as sessões serão também realizadas em casa desta família para identificar os problemas existentes, na tentativa de os resolver.
Possivelmente também serão necessários alguns materiais audiovisuais, para demonstrar algumas das situações reais.

2.   Avaliação
Apesar de as metodologias apresentadas não resolverem todas as problemáticas presentes, ajudam e muito na sensibilização desta família.
Julgamos que as metodologias demonstradas são viáveis e bastante eficazes.


Conclusões
O Educador Social tem um árduo trabalho nas famílias em situação de risco. Todos nós temos consciência de que existem vários problemas na sociedade em que estamos inseridos. Contudo, quando nos defrontamos com uma, a realidade torna-se muito mais evidente e difícil de acreditar.
Contudo, nós, como futuros Educadores, devemos desempenhar atividades e utilizar estratégias interventivas de forma a inserir e integrar esses indivíduos que se encontram à margem da sociedade.
Intervir implica sempre uma mudança! Cada caso é um caso, e as metodologias a aplicar devem ser distintas de situação para situação, pois cada individuo apresenta as suas características, a sua personalidade e as suas necessidades.
O Educador deve analisar todas essas necessidades e propor diversas estratégias para solucionar e dar resposta a cada um.
A realização desta tarefa foi complicada, pois a família apresentada, não apresentava uma problemática, mas sim, várias. Embora tenhamos consciência que as metodologias apresentadas não resolvem todas situações, ficamos satisfeitos por contribuir para melhorar a situação desta família.


Bibliografia:
AZEVEDO, S. (2011). Técnicos Superiores de Educação Social – Necessidade e Pertinência de um estatuto profissional. Porto: Fronteira do Caos
CLAVEL, G. (2004). A Sociedade da Exclusão – Compreendê-la para dela sair. Porto: Porto Editora
DELORS, J. et al (1998). Educação um tesouro a descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez Editora
PASSERINI, J. & SOZO, M. (2008). A Influência da família no desenvolvimento emocional de crianças sob situação de risco: Um olhar da terapia ocupacional. Católica de Goiás.
REBELO, H. (2012). Seminário sobre: “Intervenção: Famílias em Risco”, em Janeiro.
SAMPAIO, D. (1994). Inventem novos pais. Lisboa: Editorial Caminho
SILVA, S. (2009). Famílias de risco, Crianças de risco? Representações das crianças acerca da família de risco. Universidade do Minho



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