“O educador realiza a sua missão de orientar, acompanhar
e ajudar, na medida que ao aproximar – se do outro, não pode ficar indiferente
aos seus apelos”
Baptista
e Carvalho, 2004
Índice
Introdução
Parte
I
1. Enquadramento
Teórico
1.1.
Famílias em risco/famílias
multiproblemáticas
1.1.1. Desenvolvimento
familiar
1.2.
A intervenção em famílias em risco – O
papel do Educador socioprofissional
Parte
II
2. Apresentação
do Cenário de Rico
2.1.
Público – Alvo
2.2.
Caracterização/ Apresentação do Público
– Alvo
2.3.
Dinâmica a aplicar
2.4.
Objetivo Geral
2.5.
Objetivos Específicos
2.6.
Metodologias a utilizar
2.7.
Duração da dinâmica
2.8.
Recursos humanos a utilizar
2.9.
Recursos físicos a utilizar
3. Avaliação
Conclusões
Bibliografia
Introdução
O
presente trabalho é desenvolvido no âmbito da unidade curricular Metodologias e Técnicas de
Educação Gerais e Especiais II, orientada pela Dr.ª
Maria Orquídea Campos, do quarto semestre da Licenciatura de Educação
Socioprofissional, da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Canelas, Vila
Nova de Gaia.
A
tarefa aqui patente tem como objetivo primordial, identificar um determinado
cenário de risco e posteriormente enumerar algumas metodologias abordadas na
aula, para dar solução à problemática apresentada.
O
trabalho está dividido em duas partes. A primeira é referente a um pequeno
enquadramento teórico, onde é abordada a questão das famílias em situação de
risco / famílias multiproblemáticas, o desenvolvimento e funcionamento
familiar, bem como a intervenção nestas famílias.
A
segunda parte reporta-se para a apresentação do cenário de risco. Aqui é
identificado qual o público – alvo, bem como a sua caracterização, o nome da
dinâmica a apresentar, o objetivo geral e os específicos, as metodologias, a
duração do acompanhamento, os recursos humanos e físicos e uma pequena
avaliação.
É
de realçar que o cenário apresentado é verídico, presenciado pela autora deste
trabalho.
Apesar
de serem expostas algumas metodologias pedagógicas para intervir, antes de
serem apresentadas, será solicitado à turma alguns exemplos de metodologias que
possam ser aplicadas neste caso específico. Só depois serão enunciadas os
métodos presentes neste trabalho.
11.
Enquadramento teórico
1.1.
Famílias em risco/ famílias multiproblemáticas
O primeiro meio de socialização que o sujeito
integra é a família. Esta deve transmitir valores de maneira a que seja
possível o amadurecimento e a aquisição de normas essenciais para o
desenvolvimento biopsicossocial de cada elemento familiar. “A família é
considerada um ciclo vital, do qual, trará algumas consequências e interferências
no aspeto emocional, assim como na construção da sua identidade, que será vista
como um espelho para as gerações futuras, capaz de construir o alicerce no
decorrer da vida” (Passerini & Sozo, 2008, p.5).
Família provém do latim “famulus” que
significa “escravo doméstico”. Este conceito apareceu durante o período da Roma
Antiga para atribuir um significado aos grupos sociais que foram surgindo nas
tribos e que trabalhavam como escravos e como agricultores. Mais tarde a família
passou a ser valorizada, mas apenas eram respeitadas as famílias em que todos
os membros fossem do mesmo sangue, existindo, também, um chefe para tomar
decisões e dar ordens (Silva, 2009).
O mesmo autor afirma que na Idade Média, as
crianças deixavam de o ser quando aprendiam a trabalhar. Nesta fase, a família
não era sinónimo de afetividade, mas sim de sobrevivência.
Segundo Clavel (2004), as alterações
industrias que ocorreram devido à Revolução Industrial, provocaram uma
mobilidade geográfica, social e profissional. O emprego diminui o que fez com
que um casal passa-se a constituir família, essencialmente pelo dinheiro que
iriam beneficiar dos apoios sociais, aumentando, assim, o número de famílias
multiproblemáticas.
“As famílias multiproblemáticas são (...) um
dos emblemas da pós-modernidade e isso não apenas pela sua estreita ligação às
toxicodependências. Geralmente pouco produtivas, a sua relação com o consumo é
ambígua e quase pitoresca: em casa pode faltar o necessário ao nível da comida
ou da roupa e, apesar disso, encontrar-se repetido um eletrodoméstico último
modelo. O que estas famílias consomem de forma desenfreada são serviços
sociais, até ao ponto de existir uma relação privilegiada entre ambas as
instâncias o que faz com que, frequentemente seja muito difícil desligá-las uma
da outra” (Linares, 1997, citado por Rebelo, 2012).
Silva (2009), acredita que a família é um
socializador primário e é aqui que são transmitidos valores, hábitos, costumes,
regras e linguagem que caraterizam o próprio seio familiar.
Do mesmo modo pensa Rebelo (2012), uma vez
que considera que a família é um lugar único onde são feitas e elaboradas
diversas aprendizagens. Contudo, o presente autor considera que o meio familiar
tem sofrido muitas alterações, considerando que existem dois tipos de sistemas
familiares: o sistema familiar funcional e o disfuncional, como é possível
verificar na tabela 1.
Tabela 1: Caraterísticas dos sistemas familiares funcionais e
disfuncionais
|
Sistema Familiar
funcional
|
Sistema familiar disfuncional
|
Limites entre gerações
|
Cada geração adulta é responsável por
si
|
Individuação precária
|
Limites entre indivíduos:
- Alianças
- Relações Simbióticas
Automatização
- Casamento dos filhos
- Chefia
- Responsabilidades
|
Claros
- Sólidas entre os pais
Limitadas aos primeiros meses de vida.
Adolescência dos filhos bem
localizável.
Diz respeito aos dois interessados,
sobretudo.
- Bem aceite.
- Assumidas. Partilhadas em situações
difíceis.
|
Confusos
- Fraca entre os pais. Coligação de um
dos pais com o filho.
Aquisição de autonomia dos filhos
provoca crises familiares.
Assunto de família. Necessidades de
automatização não reconhecidas.
Atribuídas a pessoas exteriores à
família ou aos acontecimentos (destino).
- Não são aceites.
- Não existem, ou não são assumidas.
|
- Comunicações
|
- Cada um fala por si. Comunicações
claras. Receção das mensagens bem assinaladas. Se a comunicação é pouco
clara, há possibilidade de meta comunicar.
|
- Tendência de falar em nome de todos.
Comunicações pouco claras ou ambíguas. Mensagens contraditórias.
Desqualificação das mensagens recebidas (ignoradas, desvirtuadas,
minimizadas).
|
- Respostas a modificações ou
situações difíceis
|
- Feedback positivo, adaptação à
mudança. Modificação das regras de funcionamento interno ou externo.
|
- Feedback negativo, oposição à
mudança.
|
Fonte:
REBELO, H. (2012). Seminário sobre: “Intervenção: Famílias em Risco”, em
Janeiro.
As famílias que se encontram em risco
englobam sujeitos mais isolados que apresentam meios afetivos e morais
fragilizados. Consequentemente, uma família que se encontra numa situação de
risco, está mais privada e limitada a nível socioeconómico, nomeadamente no
acesso ao mercado profissional, ao estatuto social e à aquisição de
rendimentos; no campo urbano, sobretudo, no acesso à habitação, cultura e
qualidade de vida; a nível escolar, designadamente no acesso a formação, o que
provoca um insucesso escolar; no campo da saúde e no campo jurídico (Clavel,
2004).
1.1.1.Desenvolvimento e
Funcionamento Familiar
Rebelo (2012), acredita que não existe apenas
um sintoma preciso para afirmar que uma família se encontra em risco. Este
autor considera que os primeiros comportamentos surgem na etapa de formação do
casal, onde há dificuldade de dar resposta às necessidades básicas e de
estabelecer um suporte financeiro, o que leva a uma procura de ajuda financeira
para responder a essas carências, causando uma dependência dos apoios socias e
institucionais.
O autor anteriormente enunciado diz que estas
famílias apresentam casas pouco cuidadas e degradadas, bem como uma dificuldade
em cumprir regras e leis. Estes grupos familiares têm um grande absentismo
escolar e inúmeras situações de maus tratos.
1.2.
A intervenção em famílias de risco – O papel do Educador
Socioprofissional
Todas as transformações que ocorreram
provocaram uma distinção mais evidente entre os países pobres e ricos. O que
levou a um acréscimo de famílias carenciadas. A educação desempenha um papel
fundamental neste âmbito: “há que conduzir, ou reconduzir, para o sistema
educativo, todos os que dele andam afastados, ou que o abandonaram, porque o
ensino prestado não se adaptava ao seu caso. Isto supõe a colaboração dos pais
na definição do percurso escolar dos filhos e a ajuda às famílias mais pobres
para que não considerem a escolarização dos seus filhos como um custo
impossível de suportar” (Delors et al, 1998, p.55).
Na perspetiva de Sampaio (1994), os divórcios
e as separações aumentam de ano para ano, e, esta rutura é associada ao fim do
amor, contudo o presente autor, afirma que quando um casal tem um determinado
problema, deve pedir ajuda aos técnicos especializados, caso contrários todas
as discussões irão ser sentidas pelos filhos e isso, irá afetar a construção da
sua personalidade.
O educador socioprofissional / social tem um
grande papel interventivo nas situações de risco. Este mediador social atua
perante as questões sociais e as necessidades dos sujeitos. Contudo, este
educador deve também integrar as pessoas que se encontram em situações de
risco, exclusão e marginalização social. O Educador Social concede auxílio
psicossocial, profissional, cultural, a sujeitos que estão inseridos em
contextos sociais variados, desenvolvendo ações que diminuam e resolvam esses
problemas. Contudo, este educador, não trabalha sozinho, pois estabelece um
trabalho cooperativo e colaborativo com os técnicos que acompanham cada caso
(Azevedo, 2011).
Parte II
1.
Apresentação do Cenário de Risco
1.1.
Público – Alvo
O presente cenário é integrado por uma
família constituída por 12 elementos.
1.2.
Caracterização/ Apresentação do Público-alvo
A família é constituída por:
- Uma idosa, (mãe e avó), viúva com cerca de 80 anos e
que recebe auxilio a nível de cuidados de higiene (apoio domiciliário);
- 2 Casais: casal A e casal B.
- Casal A:
Ø mulher e homem desempregados e ambos têm baixa
escolaridade;
Ø mulher alcoólica;
Ø mulher recebia o Rendimento Social de Inserção (RSI), mas
deixou de o receber, por incumprimento do acordo de inserção;
Ø este casal tem 4 filhos rapazes: um maior de idade (já
não vive em casa); outro com 17 anos; outro de 13 anos e outro de 6.
Ø Os filhos menores foram retirados e estão acolhidos em
instituições.
- Casal B:
Ø mulher trabalha, mas apresenta baixa escolaridade;
Ø homem desempregado a receber o RSI, com poucas
habilitações literárias;
Ø este casal tem três filhos: dois rapazes menores, um com
7 e outro com 12 anos; uma rapariga de 15 anos.
Ø Os dois rapazes frequentam a escola, embora faltem com
alguma frequência; a rapariga já tem um filho, que foi retirado poucos meses
após o seu nascimento.
É de realçar, que esta família vive numa casa
degradada, sem água quente e numas condições bastante precárias. A cozinha da casa
também faz de sala, e o sofá que nela se encontra faz de cama para um dos
jovens. Existem discussões permanentes entre os casais, principalmente entre as
mulheres.
A situação apresentada é real, vivenciada
pela autora do presente trabalho, na instituição onde está a desenvolver o
estágio.
1.3.
Dinâmica a aplicar
A proposta de resolução do cenário
apresentado denomina-se de I.Z.I (Intervir,
Zelar e Integrar).
1.4.
Objetivo Geral
Sensibilizar e promover a inserção social de uma família em
situação risco
1.5.
Objetivos Específicos
- Promover e melhorar a qualidade de vida;
- Melhorar a autoestima de cada elemento;
- Desenvolver competências socioprofissionais e
socioeducativas;
- Desenvolver aptidões do saber – fazer, saber – estar e
saber – ser;
- Promover a interação/socialização;
- Contribuir para o bem – estar físico, psicológico e
social.
1.6.
Metodologias a utilizar
Este caso apresenta diversas problemáticas que
necessitam de ser trabalhadas e por isso torna –se fundamental utilizar
diversas metodologias de intervenção. As metodologias a aplicar seriam as
orientadas para a modificação de atitudes.
Um método pedagógico essencial para obter
resultados favoráveis nesta situação é o “Método dos Casos”, uma vez que este
responde à preocupação de completar a aprendizagem com recursos a casos reais
e, neste caso é essencial, para sensibilizar esta família, para que eles
consigam perceber em que condições vivem, que valores transmitem aos seus
filhos e quais atitudes que tomam no seu quotidiano.
Outro método a aplicar seria a “Discussão de
Grupo”, onde todos os participantes têm a possibilidade de explorar os seus
receios, tentações e objeções. Este método permite discutir o funcionamento
entre os elementos, possibilita o conhecimento de um determinado assunto, sendo
eficaz na assimilação de conhecimentos e é essencial para proporcionar a
motivação.
O último método, que julgamos ser importante
para tentar resolver e/ou melhorar este caso refere-se a “Formação centrada nos
participantes”, neste processo, o formador coordena toda a sessão, apresenta
algumas atividades semiestruturadas, dando possibilidade ao grupo de
desenvolver essas atividades da maneira que pretender, de acordo com as
necessidades e ritmo de cada um.
1.7.
Duração da Dinâmica
A dinâmica I.Z.I deverá decorrer duas vezes
por semana, alternando as metodologias, de maneira a não criar monotonia, desmotivação
e desinteresse.
A criação de rotinas é fundamental para esta
família, uma vez que não existe qualquer tipo de regras.
Esta família deve ser acompanhada num período
de longa duração.
1.8.
Recursos humanos a utilizar
Para tentar resolver algumas das situações,
seria necessário vários intervenientes, nomeadamente um educador
socioprofissional, um assistente social, uma terapeuta familiar e um psicólogo.
Este trabalho deve ser de carater cooperativo e colaborativo, pois só assim
será garantido o sucesso e a eficácia da resolução deste caso.
Poderá também, ser necessário a presença de
pessoas que já passaram por situações semelhantes, para falar dos seus casos e
demonstrar como o ultrapassaram.
1.9.
Recursos físicos a utilizar
Estas sessões deverão decorrer numa sala, com
bastante luminosidade e conforto.
Por vezes, as sessões serão também realizadas
em casa desta família para identificar os problemas existentes, na tentativa de
os resolver.
Possivelmente também serão necessários alguns
materiais audiovisuais, para demonstrar algumas das situações reais.
2.
Avaliação
Apesar de as metodologias apresentadas não
resolverem todas as problemáticas presentes, ajudam e muito na sensibilização
desta família.
Julgamos que as metodologias demonstradas são
viáveis e bastante eficazes.
Conclusões
O Educador Social tem um árduo trabalho nas
famílias em situação de risco. Todos nós temos consciência de que existem
vários problemas na sociedade em que estamos inseridos. Contudo, quando nos
defrontamos com uma, a realidade torna-se muito mais evidente e difícil de
acreditar.
Contudo, nós, como futuros Educadores,
devemos desempenhar atividades e utilizar estratégias interventivas de forma a
inserir e integrar esses indivíduos que se encontram à margem da sociedade.
Intervir implica sempre uma mudança! Cada
caso é um caso, e as metodologias a aplicar devem ser distintas de situação para
situação, pois cada individuo apresenta as suas características, a sua
personalidade e as suas necessidades.
O Educador deve analisar todas essas necessidades
e propor diversas estratégias para solucionar e dar resposta a cada um.
A realização desta tarefa foi complicada,
pois a família apresentada, não apresentava uma problemática, mas sim, várias.
Embora tenhamos consciência que as metodologias apresentadas não resolvem todas
situações, ficamos satisfeitos por contribuir para melhorar a situação desta
família.
Bibliografia:
AZEVEDO, S. (2011). Técnicos
Superiores de Educação Social – Necessidade e Pertinência de um estatuto
profissional. Porto: Fronteira do Caos
CLAVEL, G. (2004). A
Sociedade da Exclusão – Compreendê-la para dela sair. Porto: Porto Editora
DELORS, J. et al (1998). Educação um tesouro a descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão
Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez Editora
PASSERINI, J. & SOZO, M. (2008). A Influência da família no desenvolvimento emocional de crianças sob
situação de risco: Um olhar da terapia ocupacional. Católica de Goiás.
REBELO, H. (2012). Seminário sobre: “Intervenção: Famílias em Risco”, em Janeiro.
SAMPAIO, D. (1994).
Inventem novos pais. Lisboa: Editorial Caminho
SILVA, S. (2009). Famílias
de risco, Crianças de risco? Representações das crianças acerca da família de
risco. Universidade do Minho
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